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CAMPO MAIOR – A ANTIGA PRAÇA DE GUERRA

por Francisco Galego, em 29.03.18

É Campo Maior uma das praças mais importantes da Província do Alentejo, fronteira de Badajoz, sem que entre uma e outra haja rio ou serra que possam impedir as operações de cavalaria. Faz também fronteira  com Albuquerque que é a segunda Praça da Província da Estremadura. 

(...) É esta Vila fortificada ao moderno, como uma das praças principais das fronteiras. O seu recinto é formado pelo Baluarte de S. João (1) e o de Santa Cruz, entre os quais o fosso que lhes corresponde é cheio de água. À sua parte maior, que é a que envolve o Baluarte de S. João, chamam o Lago; à parte mais pequena,  a que envolve o Baluarte de Santa Cruz, chamam o Laguinho. Têm as suas águas, muita tenca e excelentes pardelhas (2). Conservam-se todo o ano com abundância de água que recebem dos ribeiros da Fonte Nova e do Laguinho. Ao Baluarte de S. Cruz segue-se uma cortina muito extensa e, no remate dela, fica-lhe, a cavaleiro (3), o meio baluarte a que chamam do Curral dos Coelhos. A este segue-se o que se chama Baluarte de Lisboa. Entre este e o Baluarte de S. Sebastião está a Porta da Vila, a que chamam de Porta de Santa Maria. Segue-se o Baluarte da Boa Vista, a que se segue o Meio Baluarte de Santa Rosa, que está a ser restaurado;  a ele seguem-se, o Baluarte de São Francisco, o Baluarte da Fonte do Concelho e o Baluarte do Picha Torta (4), cuja cortina fecha a Praça no Baluarte de S. João e, nessa cortina, está situada a porta principal  da vila, a que chamam Porta de S. Pedro (5).

Tem excelentes fossos, bastantes esplanadas, estradas encobertas e, em algumas partes, contra-escarpas.Tem seis revelins, dois fortes, o principal chama-se Forte de S. João (6) e fica para a parte do nascente, o outro chamado  Forte do Cachimbo , fica mais para a parte do meio-dia (7).

Esta fortificação principiou-a D. João IV, tendo-a continuado a Rainha D. Luísa, El-Rei D. Afonso VI, El-Rei D. Pedro II e El-Rei D. João V, que Deus guarde.

Mas, sem embargo de não estar acabada e ter muitas imperfeições, resistiu ao Sítio que lhe moveram os castelhanos em 27 de Setembro de 1712, governando aquele exército o Marquês de Bay e as nossas armas Pedro de Mascarenhas e sendo governador da Praça, Estêvão da Gama de Moura e Azevedo.”

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(In, Estêvão da Gama de Moura e Azevedo, Notícias da Antiguidade, Aumento e Estado Presente da Vila de Campo Maior, (pág.s 79 e 80).

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(1) Vulgarmente designado como "Cavaleiro".

(2) Os peixes costumam garantir a limpeza das águas. Mas, segundo testemunhos da época, estes peixes eram pescados e usados na alimentação pela população. Daí terá resultado uma continuada redução, provavelmente até à extinção.

(3) Sobreposto ou sotoposto.

(4) Este baluarte,aparecia assim nomeado nas plantas militares. Mas, porque esta designação deixou de ser apropriada, numa linguagem socialmente aceitável, passou a ser designado como Baluarte do Príncipe, em homenagem ao futuro D. João VI que, devido à instabilidade mental da rainha D. Maria I, sua mãe, era ele quem efectivamente, reinava em Portugal.  Este baluarte ocupava o espaço do quadrilátero irregular hoje confinado pela Avenida da Liberdade (lados N. e N.E.), pela Estrada Militar (lado S.) e pelo terreno ocupado pela Creche da Santa Casa da Misericórdia. Este espaço está agora  ocupado por prédios de habitação, por garagens e por armazéns. Da estrutura militar primitiva, restam apenas um pano de muralha, no lado virado a N. e outro confinando com o terreno onde está a Creche.  Ligava-se por uma cortina de muralha rodeada de fosso, orientada para S.E, com o baluarte da Fonte do Concelho e por outra cortina, com o Baluarte de S. João (dito a Cavaleiro), na direcção N.W.

(5) Por ter sido construída mais tardiamente, a chamada "Porta de S. Pedro" foi,  durante muito tempo, designada como  a "Porta Nova". Passou a ser o  principal acesso à vila, quando foi aberta uma nova ligação  à estrada para a cidade de Elvas que passava pela Fonte Nova, donde deriva também a estrada para Portalegre, passando por Degolados e Arronches.

(6) Era vulgarmente designado como "Forte das Pesetas". Foi depois demolido porque, devido à sua colocação e disposição, em caso de "sítio" constituiria uma posição perigosa, se ocupada pela artilharia das forças sitiantes.

(7) Ou seja, perto da estrada que, saindo pela porta de Santa Maria, faz a ligação à estrada para Elvas.

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