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“A crise alimentícia faz-se sentir profundamente em Campo Maior. O alto preço do pão e do azeite está afectando a subsistência das classes trabalhadoras e, conquanto elas tenham suportado até hoje com uma coragem e abnegação dignas dos maiores louvores, contudo, as necessidades desta ordem são imperiosas e, aos poderes políticos pertence obviar a que cheguem à extremidade, quando há fáceis meios para, até certo ponto, serem remediadas.

Em Campo Maior, há ordinariamente muito trabalho agrícola; porém, sabemos que os serviços da agricultura estão sujeitos a interrupções que provêm das variações atmosféricas. Além disso, em anos de penúria cultiva-se menos que nos ordinários, em razão da deficiência de meios que, então, os agricultores sofrem.

No mês que decorre e no anterior a menor ocupação de braços tem sido assaz sensível e, tanto que os operários campestres carecem actualmente de um recurso extraordinário. Esse recurso, ou antes, remédio contra a fome, é começarem quanto antes os trabalhos das estradas concelhias (a de Ouguela e a do cemitério), cujos estudos estão feitos mas não aprovados.

Compreende-se que, noutras circunstâncias, os termos legais de aprovação dos estudos se levem a efeito com vagar, que se examinem com o mais minucioso escrúpulo os planos dos homens especiais que os confeccionaram, que na comissão de viação sejam de novo revistos; mas, em situação tão apertada, quando centenares de esfaimados estão esperando todos os dias que se dê começo a trabalhos que por algum tempo devem remediar as suas precisões, não aprovamos, não desculpamos sequer que se protraia (adie ou empate) por poucos dias o que se deve fazer quanto antes.

Sabemos que a benemérita câmara municipal, tanto por diligências oficiais, como recorrendo a particulares, se não tem descuidado deste negócio e que insta e pede sem se importar que lhe chamem importuna. Nós também pedimos, também instamos, para que se mate a fome a muita gente que está sofrendo e se vê obrigada a esmolar, indo assim agravar a subsistência diária de famílias que dão mais esmolas que podem dar.

Pedimos, pois ao nosso bom amigo, senhor director das obras públicas do distrito, pedimos à comissão de viação, pedimos ao Sr. ministro respectivo, pedimos enfim a todos que tenham acção e intervenção neste negócio, que não demorem um benefívio público com formalidades excessivas ou desnecessárias e se acuda aos pobres trabalhadores campomaiorenses o mais depressa possível.

(João Dubraz, In, Democracia Pacífica, Elvas, Nº 67, 4/3/1868)

 

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