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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Nesta região de Portugal, as “saias” funcionavam também como descante nos trabalhados rurais. Cantava-se geralmente quando se trabalhava no campo, isoladamente ou em grupo. Mas cantava-se, principalmente, quando as tarefas agrícolas tinham de ser realizadas colectivamente, por grandes ranchos de camponeses, o que acontecia em determinadas épocas do ano: em grupos mais pequenos, quando os ganhões lavravam os campos ou quando se faziam as sementeiras; em grandes ranchos de homens e mulheres, quando se ocupavam na apanha da azeitona no Inverno, no escardar das searas por altura da Primavera, nas ceifas do Verão e nas vindimas do Outono.
Nesse tempo havia uma cultura camponesa que se manifestava nas atitudes e nos comportamentos das pessoas que faziam dos trabalhos agrícolas a sua principal ocupação.
Os carreiros e os pastores, por exemplo, tinham grande orgulho na maneira como aparelhavam e enfeitavam os animais entregues ao seu cuidado pelos maiorais. Os mais jovens, quando ainda solteiros, rivalizavam na maneira como iam adquirindo, à custa de algum dinheiro que conseguiam poupar dos seus magros salários – quase sempre com o sacrifício de outras necessidades – guizos, cascavéis, esquilas e chocalhos para dar um som personalizado ao andamento das parelhas que conduziam, ou aos animais colocados sob sua guarda no pastoreio.
Não quero amor de boieiro,
Que não ganha bons tostões;
E toda a sua riqueza,
São chocalhos e esquilões.[1]
A escolha combinada do som desses apetrechos era tarefa que podia demorar horas pois exigia muita e atenta ponderação. Só quem pôde observar os jovens camponeses, nas feiras ou no comércio local, entregues a essa delicada missão, pode fazer ideia do valor que eles atribuíam a essa escolha e de quanto empenho punham em tão importante decisão.
[1] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 346, Elvas, 15 de Novembro de 1884, mas com algumas diferenças.
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