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NO INÍCIO DO ANO ESCOLAR

por Francisco Galego, em 08.09.17

 

 ALGUMAS QUESTÕES SOBRE A “NEUROEDUCAÇÃO” ....

 

Questões respondidas por Francisco Mora, autor do livro - Neuroeducación. Solo se puede aprender aquello que se ama.

 

Pergunta. Porque é tão importante levar em conta as descobertas da neuroeducação para transformar a forma de aprender?

Resposta. No contexto internacional sente-se muito  a necessidade  de ancorar em algo sólido o que até agora são apenas opiniões, e esse interesse  dá-se especialmente entre os professores.

O que a neuroeducação faz é transferir a informação de como o cérebro funciona, para melhorar os processos de aprendizagem. Por exemplo, saber quais os estímulos que despertam a atenção que, em seguida, dará lugar à emoção. Pois que, sem esses dois factores, nenhuma aprendizagem ocorre.

O cérebro humano não mudou nos últimos 15.000 anos. Assim, poderíamos ter uma criança do Paleolitico  numa escola e o professor nem se apercebiria disso. A educação  mudou pouco nos últimos 200 anos, mas já temos algumas evidências de que é urgente fazer essa transformação e que devemos redesenhar a forma de ensinar. Sabemos que para um aluno prestar atenção na aula não basta exigir que ele esteja atento.

Pergunta: Quais são as certezas que já podem ser aplicadas?

Resposta: Uma delas é a idade em que se deve aprender a ler. Sabemos hoje que, os circuitos neurais,  para transformarem de grafema em fonema, codificando o que você lê e o que você diz, não fazem conexões sinápticas (relações de contacto entre os dendritos das células nervosas) antes dos seis anos. Ora, se os circuitos que permitirão aprender a ler não estão formados, poder-se-á ensinar forçando com imposições ou castigos, ou seja, com maior ou menor sacrifício.Mas não de forma natural.

Se uma criança começa com seis anos, em pouquíssimo tempo aprenderá. Porém, se começar com quatro, talvez consiga, mas só com enorme sacrificio. Nós, porém, tendemos a rejeitar tudo o que é doloroso. E, por isso, rejeitamos. Mas, em contrapartida, tentamos repetir aquilo que é prazeiroso.

Pergunta: Quais são as principais mudanças que o sistema de ensino actual deve sofrer?

Resposta: Hoje, estamos a começar a saber que ninguém pode aprender qualquer coisa se não estiver motivado. É necessário despertar a curiosidade, que é o mecanismo cerebral capaz de detectar o que é  diferente, no contexto da monotonia diária. Presta-se atenção àquilo que se destaca. Estudos recentes mostram que a aquisição de conhecimentos utiliza os mesmos substratos neuronais que a busca de água, de alimentos e de sexo. Ou seja, o que é prazeiroso. Por isso, torna-se necessário despertar uma emoção no aluno, pois esta  é a mais importante base, pois nela se apoiam os processos da aprendizagem e da memória. As emoções servem para guardar e recordar de uma forma mais eficaz, os conhecimentos adquiridos.

Pergunta: Quais estratégias  pode o professor usar para despertar essa curiosidade?

Resposta: Deve começar a aula recorrendo a algum elemento provocador: uma frase ou uma imagem que sejam impressionantes, para assim romper o esquema e  sair da monotonia. Sabemos que para um aluno prestar atenção na aula, não basta exigir que ele o faça. A atenção deve ser evocada com mecanismos que a psicologia e a neurociência estão começando a desvendar. Métodos associados à recompensa, e não à punição. Desde que somos mamíferos, há mais de 200 milhões de anos, a emoção é aquilo que nos move. Os elementos desconhecidos que nos surpreendem, são aqueles que abrem a janela da atenção, que é imprescindível para a aprendizagem.

A neuroeducação não é como o método Montessori. Não existe uma regra que possa ser aplicada. Ainda não é uma disciplina académica com um corpo ordenado de conhecimentos. Precisamos de tempo para continuarmos a pesquisar porque, o que  hoje conhecemos em profundidade sobre o cérebro, não é totalmente aplicável no dia-a-dia na sala de aula. Por isso, muitos cientistas dizem que é muito cedo para levar a neurociência às escolas, primeiro porque os professores não entendem do que se lhes está a falar, e segundo, porque não há ainda literatura científica suficiente para afirmar em que idades é melhor aprender, quais os conteúdos e como. Há apenas flashes de luz.

Estamos a começar a perceber, por exemplo, que a atenção não pode ser mantida durante 50 minutos, por isso é preciso romper o formato atual das aulas. Mais vale assistir 50 aulas de 10 minutos do que 10 aulas de 50 minutos. Na prática, uma vez que esses formatos não serão alterados em breve, os professores devem, a cada 15 minutos, quebrar com um elemento disruptor: um facto interessante, uma pergunta, um vídeo que refira um assunto diferente... Há algumas semanas, a Universidade de Havard,  encarregou-me de criar um MOOC (na sigla em inglês é um curso online aberto e massivo) sobre Neurociência. Terei de concentrar tudo em 10 minutos para que os alunos absorvam 100% do conteúdo. É nesta linha que irão as coisas no futuro.

Há muita confusão e erros de interpretação dos factos científicos a que chamamos de "neuro-mitos". Um dos mais generalizados é que utilizamos apenas 10% da capacidade do cérebro. Ainda se vendem programas de computador baseados nisso e as pessoas acreditam que poderão aumentar suas capacidades e inteligência para além de suas próprias limitações. Nada pode substituir o lento e difícil processo do trabalho e da disciplina quando se trata de aumentar as capacidades intelectuais. Além disso, o cérebro utiliza todos os seus recursos de cada vez que se depara com a resolução de problemas, com processos de aprendizagem ou de dados ou casos existentes na memória.

Outro "neuro-mito" é o que fala do cérebro direito e esquerdo e que as crianças deveriam ser classificadas em função de qual dos dois cérebros é mais desenvolvido nelas. Ao analisar as funções de ambos os hemisférios em laboratório, constatou-se que o hemisfério direito é o criador e o esquerdo é o analítico – o da linguagem e da matemática. Extrapolou-se a ideia de que há crianças com predominância de cérebros direitos ou esquerdos e criou-se o equívoco, o mito, de que há dois cérebros que trabalham de forma independente, e que se tal separação não for feita na hora de ensinar as crianças, isso irá prejudicá-las. Essa dicotomia não existe, a transferência de informações entre os dois hemisférios é constante. Se temos talentos mais próximos da matemática ou do desenho, isso não se refere aos hemisférios, mas à produção conjunta de ambos.

Há um movimento muito interessante que é o da neuroarquitetura, que visa construir escolas com espaços e formas inovadoras que giram bem-estar enquanto se aprende. A Academia de Neurociências para o Estudo da Arquitectura, nos Estados Unidos, reuniu arquitetos e neurocientistas para conceberem novas maneiras de construir novos edifícios nos quais, embora seja importante o desenho arquitetónico, sejam tomadas em consideração, a luz, bem como a temperatura e o ruído, que tanto afectam o rendimento mental.

A missão do professor é muito interessante, porque trabalha com gente. As escolas têm que trabalhar as suas realidades com projectos inovadores que encontrem uma solução para toda as problemáticas que  envolvem a escola. Ao redor das escolas há todo um espaço, um laboratório a céu aberto, que as nossas escolas não costumam usar para desenvolverem o seu trabalho.

O professor inovador é aquele que procura ser um aprendiz, trabalhando conjuntamente com os seus alunos,  compartilhando informações e que tem a preocupação de diversificar os seus métodos de ensino. E, a esse respeito, os alunos podem dar um grande contributo, pois têm acesso às novas tecnologias, pesquisam com grande frequência e, por isso,  poderão transformar-se nos principais protagonistas da transformação no processo da educação. Perguntem aos alunos como eles gostariam de aprender e terão garndes surpresas.

Porque, se a educação vai mal, a culpa não é do aluno, é do professor, se não souber usar a criatividade para que os seus alunos assimilem os conteúdos. Essa é a premissa que norteia o projecto de Valter Menezes, professor de Ciências da rede municipal de Parintins, no Amazonas que, há 22 anos, dá aulas na escola Luiz Gonzaga, na comunidade rural de Santo Antônio do Rio Tracajá. e que afirma: "Se um professor reprova cinco alunos, então são seis os reprovados, contando com ele mesmo, porque os não soube ensinar".

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publicado às 18:29


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