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Aqui se transcrevem textos, documentos e notícias que se referem à vida em Campo Maior ao longo dos tempos
Aparecem referências a “Jogos com bola” desde a mais alta Antiguidade. Mas eram disputas entre grupos, sem regras estabelecidas e, por isso, degeneravam frequentemente em furiosas zaragatas, razão porque, em certas épocas, principalmente no século XVIII, chegaram a ser proibidos. Não se tratava, portanto, de antecedentes do futebol tal como agora o conhecemos. Na verdade o futebol enquanto desporto organizado, só nasceu na Inglaterra em meados do século XIX. Porém, a sua divulgação foi muito rápida.
Tenho o hábito que não sei muito bem justificar, de me dedicar a arrumar as minhas coisas no início de cada ano. Nessa tarefa, dei com o texto que agora reproduzo. Atrevo-me a dedicá-lo ao meu colega, de profissão e de reforma, Jacinto César, como prova do interesse e consideração com que sigo os interessantes textos que vai publicando. Ele, melhor do que eu, poderá apreciar a descrição que é feita da antiga cidade que tanto preza e que tão empenhadamente divulga. Pareceu-me ser esta a melhor maneira de lhe desejar o melhor ano possível.
O JOGO DA BOLA NA QUINTA DA MITRA
Corria o ano de 1737. Na quinta da Mitra, costumavam, naquele tempo, muitos moços da cidade exercitar-se no jogo da bola, principalmente, quando o sol do Inverno nos dias de santificados alegrava as tardes, fazendo-as mais saudosas.
Em tais dias, em que o povo feriava, muitas famílias procuravam recrear o espírito do enfadamento dos trabalhos da vida, desciam ao formoso rossio de S.Sebastião, por onde formigavam até às horas em que a noite começa a tirar a cor às coisas. Deste lado, o colossal aqueduto e a rotunda capela do Calvário; daquele o alto Gravim e o humilde lugarejo de S. Sebastião; adiante o vetusto alpendre e ermida do Santo Mártir; aqui a secular alameda; além a Horta do Poço (chamada hoje de S. Paulo) e os longos casais que a orlavam; acolá a inexaurível fonte de Cancan, deleitavam-lhe a vista e o ânimo.
Interposta e mais ou menos limitada por estas estâncias, era a virente quinta que o piedoso bispo D. Manuel da Cunha legou à Mitra de Elvas. E, porque as paredes que então a muravam eram pouco altas e o brio dos prelados franqueava a entrada, não poucos dos que passeavam por este largo campo, iam ver os jogadores da bola e paravam em coroa para festejá-los.
Eram quase sempre muitos os parceiros, uns por brinco, outros por aposta que obrigava, as mais das vezes, vencedores e vencidos a fazerem libações ante as próximas aras de Baco.
( Texto publicado no "Arquivo Trantagano" nº 3 (III ano), de 15 de Fevereiro de 1935, com a indicação de o texto ser datado de 20 de Fevereiro de 1737)
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