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CANTAR O TRABALHO E CANTAR TRABALHANDO VII

por Francisco Galego, em 28.05.12

NA APANHA DA AZEITONA ( VII )

 

Se a oliveira falasse,

Ela diria o que viu;

Debaixo da sua rama,

Dois amantes encobriu.[1]

                                                       

Não cortes a oliveira,

Nem lhe metas roçadoira;

Dá azeite qu’alumia,

Jesus e Nossa Senhora.[2]

 

Olhem p’ra nossa bandeira,

Tem fitas de papelão,

Viva a nossa manajeira,

Que é uma rosa em botão.[3]

 

Olhem pr’o nosso ranchinho,

Pelo menos a metade;

É para que todos digam,

É rancho da mocidade.

 

Olhem pr’o nosso ranchinho,

Todos postos em fileira,

Parecem cravos e rosas,

Postos numa prateleira.

 

Já se acabou a azeitona,

Até p’ro ano que vem;

Rapazes e raparigas,

Passem todos muito bem.

 

Já se acabou a azeitona,

Já me dói o coração;

Amanhã já fico em casa,

Sem ter dinheiro p’ro pão.

 



[1] Publicada em Cancioneiro Alentejano, por Victor Santos, 1938, p. 62.  

[2] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 579, Elvas, 25 de Janeiro de 1891.

[3] Em Campo Maior, era costume que os ranchos, acabada a apanha da azeitona, entrassem na vila com a sua bandeira ou pendão ornamentado com fitas de várias cores, levando á frente o seu manajeiro e percorressem as ruas cantando e bailando as “saias”, indo apresentar-se com a tarefa cumprida à porta do patrão.

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publicado às 16:49


CANTAR O TRABALHO E CANTAR TRABALHANDO VI

por Francisco Galego, em 22.05.12

NA APANHA DA AZEITONA ( VI )

 

Azeitona verde é mimo,

Eu também já fui mimosa;

Não se pode namorar,

Ao pé de gente invejosa.

 

Azeitona verde é mimo,

Eu também já fui mimosa;

Como queres que te ame,

Se de ti estou queixosa.

 

Debaixo da oliveira,

Não há senão ramo e folha;

Tu tens muito quem te queira,

Eu também por onde escolha.

                                                       

A azeitona retalhada,

Logo perde o amargor;

É como a moça solteira,

Quando casa perde a cor.[1]

 

Chamaste-me preta, preta,

Eu sou preta bem n’o sei;

Também a azeitona é preta

E vai à mesa do rei[2]

                                                       

A oliveira é pequenina,

E sombra pequena tem;

Também eu sou pequenina,

E não sou menos que ninguém.[3]



[1] Idem, nº 141,  Elvas, 6 de Agosto de 1882.

[2] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 417, Elvas, 21 Fevereiro de 1886.

[3] Idem, nº 420, Elvas, 14 de Março de 1886.

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publicado às 21:09


CANTAR O TRABALHO E CANTAR TRABALHANDO V

por Francisco Galego, em 16.05.12

NA APANHA DA AZEITONA ( V )

 

A oliveira se queixa,

E queixa-se com razão;

Pois lhe colhem a azeitona,

Deitando-lhe a rama ao chão.

 

Os olhos do meu amor,

São duas azeitoninhas;

Fechados são dois botões,

Abertos, duas rosinhas.[1]

 

Apanhem a azeitona,

Virados p’ro vento norte;

Que o dinheiro do patrão,

Só se ganha desta sorte.[2]

 

Já se acabou a apanha,

Já se ganhou o dinheiro;

Dou vivas ao nosso rancho,

E também ao manajeiro.

 

Já se acabou a azeitona,

Já se acabou já lá vai;

Viva o nosso manajeiro

E o dono dos olivais.

 

Vimos fartos de cantar,

Já não estamos mais p’ra isso;

A não ser que o nosso amo,

Nos dê pão, vinho e chouriço.

                                                       

Oliveira não te seques,

Que hás-de vir a juramento;

Debaixo da tua rama,

Se tratou meu casamento.[3]

 



[1] Idem, nº 439, Elvas, 28 de Julho de 1886.

[2] Publicada em Cantos Populares Portugueses – Recolhidos da tradição oral por A.T.Pires. Elvas (1902-1910), p. 156.

[3] Idem, nº 311, Elvas, 1 de Maio de 1884.

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publicado às 16:45


CANTAR O TRABALHO E CANTAR TRABALHANDO IV

por Francisco Galego, em 10.05.12

 

NA APANHA DA AZEITONA ( IV )

 

Azeitona miudinha,

Vai toda para o lagar;

Toda a moça que é baixinha,

É mais firme no amar.

                                                       

Oliveiras, oliveiras,

Tudo aqui são olivais;

Por muito que tu me queiras,

Eu’inda te quero mais.

 

A azeitona é um segredo,

Com o caroço fechado;

Anda amor não tenhas medo,

Qu’estarei sempre a teu lado.

 

A azeitona é um segredo,

Com o caroço escondido;

Todos sabem quem eu amo,

Ninguém sabe o meu sentido.

 

A azeitona já está preta,

Já se pode apanhar;

Desde a hora em que te vi,

Não parei de t’adorar.

 

Apanhem a azeitona,

Que está caída no chão;

Ainda que miudinha,

Sempre se come com pão.[1]

 

Varejem, varejadores,

Apanhem, apanhadeiras;

Apanhem baguinhos d’ouro,

Que caem das oliveiras.[2]

 

 



[1] Publicada em Cantos Populares Portugueses – Recolhidos da tradição oral, por A.T.Pires. Elvas (1902-1910), p. 156

[2] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 570, Elvas, 11 de Maio de 1890.

 

 


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publicado às 16:41


CANTAR O TRABALHO E CANTAR TRABALHANDO III

por Francisco Galego, em 04.05.12

 

NA APANHA DA AZEITONA ( III )

 

Azeitona cordovil,

Tem o caroço pintado;

Tenho visto caras lindas,

Só tu és do meu agrado.[1]

                                                       

Eu subi à oliveira,

Sete folhas apanhei;

Foram sete as saudades,

Que p’ro meu amor mandei.

 

A folha da oliveira,

Apertada na mão quebra;

Quem tem uma filha só,

Julga que o vento lha leva.

 

A azeitona já está preta,

Já lá vai para o lagar;

Toda a moça qu’é bonita,

Diz ao pai que quer casar.

 

Azeitona retalhada,

Todo o ano tem valia;

Moça solteira em casando,

Perde logo a fantasia.[2]

 

Oliveira bem cortada,

Sempre parece oliveira;

A mulher que é bem casada,

Sempre parece solteira.[3]

 

Azeitona miudinha,

Vai toda para o lagar;

Eu também sou pequenina,

Mas nasci só para te amar.

 

 

 



[1] Publicada em Cantos Populares Portugueses – Recolhidos da tradição oral, por A.T.Pires. Elvas (1902-1910), p. 15.

[2] Idem, p. 153.

[3] Publicada em A Sentinella da Fronteira, nº 135, Elvas, 16 de Julho de 1882.

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publicado às 16:37


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